A Politização da Medicina: Desconstruindo Generalizações e Defendendo a Integridade Profissional

O artigo da médica e professora da Faculdade de Medicina da UFRJ, Lígia Bahia, intitulado “Primeira Opinião de Médicos”, publicado no último domingo, 25 de agosto de 2024, no jornal O Globo, levanta questões que, à primeira vista, parecem legítimas sobre a interseção entre política e medicina, especialmente no contexto das recentes eleições para o Conselho Federal de Medicina (CFM). No entanto, ao analisar mais profundamente suas afirmações, torna-se evidente que o texto faz uso de generalizações que não apenas distorcem a realidade, mas também podem minar a confiança pública na integridade dos profissionais de saúde. Seria isso uma forma de incitar uma politização da medicina?

Imparcialidade na Prática Médica: Um Pilar Inabalável

A autora sugere que a vinculação político-partidária de médicos, especialmente aqueles associados ao bolsonarismo, pode comprometer as boas práticas médicas. Essa associação é, no mínimo, uma simplificação perigosa. Médicos, independentemente de suas convicções políticas, são formados e treinados sob um rigor ético que exige que coloquem o bem-estar dos pacientes acima de qualquer outra consideração. A competência técnica e a dedicação ao paciente não são determinadas por afiliações políticas, mas por anos de estudo, prática e um compromisso inabalável com a saúde.

Ao insinuar que as posições políticas de um médico podem influenciar negativamente a qualidade do atendimento prestado, o artigo corre o risco de criar uma desconfiança injustificada. É preciso reconhecer que a ética médica é universal e que o compromisso com o paciente transcende qualquer ideologia. A história está repleta de exemplos de médicos que, apesar de suas crenças pessoais, prestaram serviços exemplares em situações extremas, colocando sempre a saúde do paciente em primeiro lugar.

Falácias na Generalização: A Realidade da Prática Médica

A tentativa de associar diretamente as práticas médicas com determinadas ideologias políticas é uma falácia que desconsidera a complexidade da profissão. A medicina, por sua natureza, exige que decisões sejam tomadas com base em evidências científicas e no melhor interesse do paciente, e não em convicções pessoais ou políticas. Reduzir essa prática a um debate ideológico é desrespeitar a formação e a dedicação dos profissionais que se esforçam diariamente para salvar vidas.

Além disso, o artigo falha em reconhecer que as preocupações levantadas por médicos em relação a políticas públicas, como o programa Mais Médicos, são fundamentadas em uma preocupação legítima com a qualidade da formação e a segurança dos pacientes. A oposição a essas políticas não é meramente ideológica, mas sim uma defesa dos padrões necessários para garantir que todos os brasileiros recebam cuidados de saúde de alta qualidade.

O Perigo da Politização da Medicina

Ironia das ironias, ao criticar a suposta politização da medicina pelos médicos alinhados à direita, o artigo da Lígia Bahia ele mesmo politiza a profissão. Isso é especialmente perigoso em um momento em que a confiança na medicina é mais crucial do que nunca. A tentativa de associar a prática médica a uma luta ideológica específica não só polariza a classe médica, mas também ameaça a relação de confiança que deve existir entre médicos e pacientes.

Ao insinuar que o CFM e seus membros estão comprometidos com uma agenda política específica, o texto ignora o papel essencial dessa instituição em garantir a qualidade e a ética na prática médica. A politização indevida de temas de saúde pública e a demonização de médicos com base em suas convicções pessoais não contribuem para o avanço da medicina ou para a proteção dos pacientes; pelo contrário, só servem para criar divisões e alimentar a desconfiança.

Refletindo

Em suma, diante dos acontecimentos recentes e do engajamento do jornal O Globo na pauta dos “Doutores de Direita”,  é crucial refletirmos sobre a possibilidade de que as críticas direcionadas a médicos alinhados com certas ideologias políticas façam parte de uma estratégia mais ampla, orquestrada por setores da grande mídia, para construir a imagem de um “inimigo” conveniente. Esse cenário sugere uma carência de compromisso com a imparcialidade e o equilíbrio na cobertura das informações, onde diferentes correntes de pensamento não recebem a mesma consideração. Em vez de promover um debate saudável e construtivo, essa abordagem parece alimentar uma narrativa que incentiva a polarização e o conflito, em detrimento da verdadeira missão da medicina: cuidar da saúde e do bem-estar de todos, independentemente de crenças ou afiliações políticas. É essencial que a sociedade esteja atenta a essas dinâmicas, valorizando sempre o diálogo aberto e o respeito à diversidade de opiniões como fundamentos de um ambiente democrático e ético.

 

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